As portas da juventude
2001
Meio dia e meia. A porta da sala é aberta.
-Manhê cheguei!
-Carol por que demorou tanto para voltar da escola?
-Eu fiquei conversando com as meninas na esquina, combinando de irmos juntas ao pagode hoje.
-Já falei para você vir direto da escola para casa! Venha almoçar.
Duas horas da tarde. A porta da sala é aberta novamente.
-Ô Mãe, vou até a casa da Deb, tá!
-?
Seis horas da tarde. Mais uma vez a porta da sala e aberta.
-Mãezinha, voltei!
-Onde a senhora estava?
-Bom, eu fui a casa da Deb, estávamos escolhendo uma blusinha para ir ao pagode, então o Marcinho ligou e eu fui até a praça encontra-lo, no entanto, ele me deu os canos e já que o Fabinho estava lá a toa, bem... Ficamos.
-Carol, eu já disse que não quero que você tenha amizade com esses garotos!
-Não é amizade, Mãe, é ficar.
-Carol!
-Desculpa, Mãe.
-O que é que a vizinhança deve estar falando de você? Que não tem família... Está de castigo, já para o quarto!
-Mas é sexta-feira! É dia de pagode!
-Pa-ra-o-quar-to!
Dez horas da noite. Cuidadosa, silenciosa e vagarosamente a porta da sala é aberta.
-Onde você pensa que vai dona Carol?
-Droga! Mamãezinha linda, por favor eu...
-Já disse que não.
-Mas hoje é aquele grupo novo que vem cantar, Pombos do Pagode, e eles são lindos!
-Filha eu só quero seu bem, um dia você me dará razão. Você pode ficar falada por aí.
-Mas todo mundo vai pra lá essa noite!
-Você não é todo mundo.
-A mãe da Deb deixou.
-A Deb é a Deb, você é você. Chega de papo, já pro quarto!
Brusca e violentamente a porta da sala é fechada, quebra e cai.
